Richard Simonetti
Convidado a participar de uma reunião mediúnica, o confrade ouviu do dirigente alguns esclarecimentos: – Ligamos o aparelho de ar condicionado e orientamos para que os celulares sejam desligados. Providências acertadas considerou, intimamente, o visitante. Calor excessivo incomoda. Suor escorrendo, concentração fugindo. Celular zoando em plena reunião mediúnica não é algo que se recomende aos médiuns em transe, ainda que possa despertar dorminhocos contumazes, que fecham os olhos para fixar a atenção e acabam nos braços de Morfeu. Surpreendente foi a explicação do dirigente: – O ar condicionado favorece a manipulação de fluidos pelos mentores e o telefone ligado, ainda que não recebendo chamada, emite uma vibração magnética que interfere nas comunicações. Imaginação fértil, sem dúvida, mas pouco racional. A levar-se em consideração tal orientação, o ideal seria a prática mediúnica em recônditas regiões polares – muito gelo, nenhum celular.
A ignorância passiva, de quem pouco sabe e nem se preocupa em saber, atrapalha a prática mediúnica, formando dirigentes sem direção e médiuns sem disciplina. Pior é a ignorância ativa, de quem pretende saber muito, sem saber nada e que, a pretexto de melhorar o intercâmbio com o Além, apenas o complica. Geralmente orientações dessa natureza partem de supostos guias, sempre reverenciados como senhores da verdade, simplesmente porque estão do outro lado, sem que seus descuidados discípulos compreendam que o importante é estar ao lado da verdade, sem fantasias, sem invencionices.
Descuido imperdoável dos espíritas que cultivam o intercâmbio é ignorar O Livro dos Médiuns, que Kardec deu-se ao trabalho de escrever como obra básica, indispensável ao exercício mediúnico. Nem é preciso um estudo aprofundado. Basta observar as orientações contidas no capítulo XXIX, que trata dos grupos mediúnicos. No item 341, algumas fundamentais:
Perfeita comunhão de vistas e de sentimentos.
A reunião forma o que Kardec denomina ser coletivo, como se fosse um organismo vivo, onde cada participante é membro ativo e de importância fundamental ao êxito do intercâmbio. Indispensável por isso, que todos estejam identificados em propósitos elevados, evitando converter a reunião em consultório do Além ou em rotineira distração. Seja tudo feito para a edificação. (I Coríntios, 14:26.)
Cordialidade recíproca entre todos os membros. (Item 341.)
Antipatias gratuitas, espírito crítico, ressentimentos, mágoas, entre os participantes, turvam o ambiente, dificultam o intercâmbio, comprometem a eficiência do serviço. O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. (João, 15:12.) Ausência de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã. (Item 341.)
Espíritos obsessores, dominados por propósitos de vingança, ou perturbadores que pretendam comprometer a eficiência do serviço, só podem ser ajudados ou neutralizados se o grupo cultivar permanente empenho por compreender suas necessidades e carências, com pensamento elevado e a abstenção de sentimentos negativos. Espíritos desta casta não podem ser afastados a não ser com oração e jejum. (Marcos, 9:29.)
Fonte: Reformador – Edição – Setembro de 2011