Em termos epistemológicos o Espiritismo é um saber novo, ainda não totalmente definido em suas dimensões e conseqüências socio-culturais. Allan Kardec o disse “uma ciência” e “uma filosofia cientifica” com resultantes morais decorrentes. Os três primeiros volumes das Obras Básicas, O Livros dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e o Evangelho Segundo o Espiritismo, representam, respectivamente, uma visão filosófica, uma metodologia experimental e um compêndio de regras comportamentais, estabelecido a partir de premissas reafirmadas por Jesus. Daí se inferiu – segundo alguns foi o escritor e jurista espírita, baiano, Carlos Imbassahy -, que existem três aspectos: científico, filosófico e religioso. Em sendo assim, naturalmente o ilustre e culto causídico não deve ter pensado em três áreas independentes, como alguns têm feito. É claro que não pode haver uma tríade diversificada de espiritistas: O cientista, o filosófico e o religioso – no que concerne à aceitação do Espiritismo como uma “visão de mundo” -, pois seria uma fragmentação arbitrária e castradora do saber espírita, absolutamente contrária ao pensamento e ação de Kardec, o qual entendia o Espiritismo com um conhecimento estruturalmente único. Sua divisão dos profitentes em “espíritas verdadeiros” e “espíritas imperfeitos”, é a plena evidência do que acabei de afirmar.
Imagine-se um universo doutrinário onde se formassem os três grupos mencionados. O cientista se acharia à distância dos outros seguimentos e, claro, só poderia ser classificado como “espírita imperfeito”, da mesma forma o filosófico e o religioso que apenas se ativessem às áreas escolhidas de atuação.
Isto porque o Saber espírita é uno e indivisível, sem predominância de qualquer dos três aspectos de modo absoluto. Podem existir “momentos de ação”, quando se atue dentro de uma “cientificidade espírita” ou se interprete os fenômenos existenciais duma perspectiva filosófica espírita. Mas o comportamento ético, decorrente do conjunto doutrinário, esse é um atributo necessário a todos os “momentos” e instâncias do exercício da “práxis” espiritista, porque exigência vivencial, imprescindível. A insistência nas denominações: Espiritismo Científico, Espiritismo Filosófico e Espiritismo Religioso, é um convite à segmentação e ao conflito, como notório no atual panorama do movimento.
O Espírita, volto a insistir, quando experimenta, de forma metodológica ou empírica, numa reunião ou diante de um fenômeno mediúnico, põe em ação o “aspecto” científico da Doutrina, mas não afasta os outros dois, porque, ao realizar as deduções e projeções do que foi observado estará filosofando e, ao manter a harmonia interior e a postura ética, enquanto experimentando, estará exercendo a “conseqüência moral” espírita.
Finalizando estes pensamentos em torno da experimentação espírita, digo apenas que o exposto, com muito mais propriedade e amplitude, está devidamente tratado em O Livro dos Médiuns, do primeiro pesquisador espírita realmente digno do nome: Allan Kardec. E o mais importante é que, desde a publicação dessa obra, até o momento atual, todos os estudos não espíritas realizados em torno das faculdades espirituais do ser humano têm corroborado toda a metodologia ali discriminada, sem superar ou desmentir qualquer dos seus princípios.
Djalma Argollo
Fonte: http://www.amar-se.org.br/espiritismo.asp