‘Incorporação’ é um sinónimo, não muito adequado, para psicofonia; mas como a palavra já tem significado consagrado, vários autores continuam a usá-la; esclarecemos porém que nenhum espírito se apossa, “entra” no corpo de um encarnado, médium ou não.
In http://aprendizadoespirita.wordpress.com/2009/01/27/como-se-da-a-incorporacao/
Dito isto, falemos então de incorporação. A maior parte das pessoas considera que há uma incorporação quando alguém começa a falar com outra voz ou se atira para o chão aos rebolões ou começa a disparatar sem razão aparente usando-se até a expressão estar possuído. Ouçamos o que escrevia, há 42 anos, Carlos Torres Pastorino sobre os diferentes tipos, ou formas, de incorporação.
É [especialmente] pelo chakra cardíaco que se liga o fio fluídico dos espíritos chamados “guias” ou “mentores” dos médiuns, quando estes “incorporam” sobretudo para trabalhos de passes e curas. Vibra na frequência astral superior, com que sintoniza, e comanda os sentimentos. Como os mentores do médium são, sempre ou quase sempre, criaturas que alimentam sentimentos de amor pelo seu pupilo encarnado, a sintonia ao fazer-se pelo chakra cardíaco é mais afim com essa frequência vibratória. O espírito coloca-se atrás do médium e liga o seu fio fluídico ao chakra cardíaco do médium, partindo de seu próprio chakra cardíaco.
É [especialmente] pelo chakra laríngeo que se liga o fio fluídico dos espíritos que dão mensagens psicofónicas, na chamada “incorporação completa” falante, quando o médium reproduz até mesmo, por vezes, a voz do espírito, o seu sotaque e, mesmo em alguns casos, a língua original do comunicante, desconhecida pelo [médium]. Controla, também, o chamado “passe de sopro”, fornecendo energia ao ar expelido dos pulmões do médium. O espírito, para ligar-se ao chakra laríngeo do médium, coloca-se atrás do seu medianeiro e liga um fio fluídico do seu próprio chakra laríngeo. A partir do instante em que é feita a ligação, o médium sente a garganta tomada, falando mesmo que não queira. Certa vez disse-nos Chico Xavier: “eles me colocam um trem aqui na garganta e tenho que falar”.
O chakra umeral situa-se entre as omoplatas e comanda os movimentos dos braços, antebraços, mãos e dedos. Nele se liga o fio fluídico do espírito comunicante para a psicografia automática, isto é, quando o sentido do que o médium escreve não lhe passa antes pelo cérebro, mas a ação dá-se diretamente na mão e no braço e só depois do médium escrever ou desenhar [ou esculpir ou tocar música], é que toma conhecimento do que fez. O espírito coloca-se atrás do médium, ou a seu lado, e lança seu fio fazendo contacto com o chakra do médium, que dificilmente consegue resistir ao impulso recebido. [*n.p.=embora esse chakra seja imprescindível para o funcionamento da Psicografia Mecânica, é muito pouco conhecido e nem incluído está na relação dos chakras. Tem a forma de uma Lemniscata (“s”, um oito deitado) e os antigos escritos descreviam-no como asas de seres iluminados.]
O chakra frontal, [ou terceiro olho, situado na fronte] é responsável pela vidência no plano astral, formando-se as imagens astrais na parte lateral da retina. Quando os videntes, sobretudo os pouco treinados, percebem uma figura a seu lado, se voltam os olhos para esse lado, a visão desaparece. Eles terão que habituar-se a focalizar a visão sem olhar de frente para ela, pois se o fizerem, o foco incidirá na fóvea, que é o ponto específico da visão física, mas não da astral [*n.p.=A fóvea é a região central da retina do olho humano onde se forma a imagem que será transmitida ao cérebro]. Na clarividência à distância (quer no espaço, quer no tempo), forma-se geralmente um “tubo” fluídico que parte do chakra frontal, ligando o médium à cena que deve ser vista. Daí os faraós e videntes do Antigo Egito serem representados nas figurações com uma serpente, que lhes saía da testa, e simbolizava a visão astral desenvolvida. Outro tipo de visão captada pelo chakra frontal são os “quadros fluídicos”, criados seja pela mente do próprio médium, seja pela de outro encarnado ou de algum desencarnado. Esses quadros (ou figuras), alguns facilmente confundíveis com espíritos reais aí presentes, por vezes apresentam-se reduzidos, em dimensões muito pequenas, mas com absoluta nitidez de todos os pormenores. Ainda outra variedade de vidência é a chamada “vidência mental”. Nesta, nada se vê em imagem física figurada. As imagens apresentam-se ao cérebro, tal como se fossem “imaginadas” num sonho acordado. Não sei se conseguimos explicar-nos: vemos sem ver, mas vemos! Com o desenvolvimento desse chakra, passamos a ter segurança na interpretação do que vemos mentalmente. No entanto, acrescenta Pastorino, nenhum desses tipos de vidência constitui, propriamente falando, uma mediunidade no sentido exato do termo. Na mediunidade RECEBE-SE e ENTREGA-SE. Na vidência não ocorre isso: é a própria criatura que vê. Nada recebe de ninguém: ela mesma tem a capacidade de ver por si mesma. Então, em vez de mediunidade, nós chamaríamos a isso capacidade. Ou a criatura conquista pelo próprio esforço evolutivo essa capacidade, e tem-na; ou, se não fez por merecê-la, não a tem. Além da vidência, o chakra frontal é responsável pela audiência, em que a voz do espírito é ouvida dentro do ouvido, como se as vibrações não viessem de fora, pelo ar atmosférico, mas ecoassem dentro da caixa craniana. Outra modalidade é a clariaudiência, em que se ouvem vozes e sons que vibram à distância (quer no espaço, quer no tempo). Aqui também é comum observar-se a formação fluídica de um tubo acústico, talvez para ampliar as vibrações sonoras, tornando-as suficientemente fortes para conseguir impressionar o ouvido. Com a audiência dá-se o mesmo fenómeno que na vidência: uma voz no cérebro, uma voz sem som, contudo perfeitamente sentida, percebida, ouvida, embora não ouvida! Mas as frases chegam com nitidez absoluta.
É através do coronário que recebemos a Luz do Alto. Os primitivos cristãos conheciam bem a sua força, tanto que os monges ocidentais (à imitação do que sucedia com os orientais: egípcios, chineses, hindus, tibetanos, etc.) rapavam a cabeça como um símbolo: afastavam os cabelos, isto é, todos os empecilhos materiais, para que a ligação com o Espírito e o recebimento de Luz fosse a mais perfeita possível. Com o correr dos tempos, a igreja permitiu que os seus sacerdotes e monges usassem cabelo comprido mas impôs que, pelo menos no alto da cabeça, permanecesse um círculo rapado (a “tonsura”), como indício de que abandonavam a materialidade e se dedicavam daí por diante ao Espírito. O chakra coronário é o sintonizador das ondas do plano mental recebidas por telepatia, quer provenham elas de fora, de espíritos desencarnados, quer das “noures” (P. Ubaldi), correntes de pensamento que constituem a “noosfera” (Teilhard de Chardin), [*n.p.=alimentamos a noosfera quando pensamos e nos comunicamos]; Aí não há necessidade de o Espírito estar próximo ao médium. Se houver SINTONIA, haverá recebimento de comunicação mediúnica. Mas as palavras, os termos, o vocabulário, o sotaque, as frases serão DO MÉDIUM que recebe as ideias e lhes dá forma. Daí poder o médium transmitir a mensagem como preferir ou como tiver mais facilidade, quer pela escrita (psicografia não-automática) quer de viva voz (psicofonia consciente). O desenvolvimento do chakra coronário só é conseguido através da evolução. O pleno desenvolvimento dá a iluminação mental e a criatura atinge o nível de Buddha, como ocorreu com Sidharta Gautama. Daí ser Ele representado com uma saliência no alto da cabeça, símbolo de sua iluminação através do coronário. A igreja também conhecia esse símbolo e colocava em redor da cabeça dos seus iluminados (santos) uma auréola dourada, que é a cor da aura dos indivíduos muito evoluídos.
Depois de tudo o que vimos, chegamos à conclusão clara de que a palavra INCORPORAÇAO – que dá a ideia de que o espírito entra no corpo do médium – está completamente ERRADA! Jamais pode um espírito penetrar no corpo de uma criatura viva, e isto pela simples razão de que o CORPO É O ESPÍRITO MATERIALIZADO… O corpo físico é a condensação grosseira do espírito. O que se dá, são ligações fluídicas, domínio do sistema nervoso, atuação sobre chakras, sobre plexos, sobre glândulas. O que se dá, são transmissões de pensamentos, telepatia, influências mentais, irradiações de fluidos, “chuvas” de ideias.
Se autoridade tivéramos, proporíamos que se abolisse totalmente a palavra “incorporação” das obras espíritas; esta proposta não visa diminuir nem menosprezar os autores que antes de nós escreveram utilizando este termo, mas apenas exprimir com clareza uma coisa clara. Uma palavra mal empregue pode levar muita gente a interpretações erróneas, por vezes com resultados perniciosos: a ideia de que o espírito “penetra” o corpo de alguém, pode levá-lo a sério desequilíbrio mental.
Fonte: “Técnica da Mediunidade” de Carlos Torres Pastorino
Independentemente desta questão de terminologia, todos os autores estão de acordo num ponto: Adenáuer Novaes, em 2002, na sua obra Psicologia e Mediunidade, [*np=173 pgs. em que nem única vez se refere incorporação, sendo usado o termo psicofonia] escreve que «A consciência, por parte do médium, de que é portador da faculdade mediúnica contribui para o seu desenvolvimento em face da permanente ligação que ela favorece com o espiritual. É essa consciência que o fará educá-la ao serviço da sua realização pessoal.» Ou seja, o médium deve estudar e aperfeiçoar-se para educar a sua mediunidade e evoluir. Caso contrário, nunca chegará ao patamar de desenvolvimento que lhe permita atingir vibrações mais elevadas e um melhor controlo sobre entidades menos educadas.
Suely Schubert, entrevistada pelo jornal O Arauto durante um Congresso de Espiritismo, em 2007, dum modo talvez um pouco rude mas desassombrado, diz o seguinte: «A Educação Mediúnica é básica. É fundamental. A educação mediúnica parte do seguinte princípio: o médium educado é a pessoa educada. Sendo educada, sendo médium ela não vai deixar que o espírito venha para falar palavras de baixo calão, o espírito não vai fazer balbúrdia dentro de uma sala mediúnica… O médium controla o espírito. Então o espírito vai encontrar no médium a ética, a educação, a gentileza… agora nós sabemos que temos que ter muito respeito… esta questão [do] médium [que] cai no chão, que o médium tem que dar expansão, a coisa não pode ser desse jeito, senão ao invés de estarmos trazendo o equilíbrio mediúnico para dentro da Casa Espírita, estamos trazendo o desequilíbrio… não temos necessidade de estar rolando pelo chão… para quê eu vou cair no chão? Então a educação mediúnica é fundamental!
Fonte: http://artigosespritas.blogspot.com/2008/08/entrevista-indita-com-suely-caldas.html
*n.p = Nota pessoal
Notas: Os textos em português do Brasil foram adaptados ao português de Portugal.
Os textos citados não estão reproduzidos na íntegra
Texto lido e discutido em reunião da AELA, 3ª feira, a 21 de junho de 2011
Olá, agradeço desde já todos os textos enviados, são fundamentais na minha aprendizagem. Gostava de saber se existem cursos através do site. Paz e muita Luz.