“Todos te pedem pelos que choram Senhor, eu me permito pedir-te pelos que provocam as lágrimas. Todos te pedem pelos sofredores, eu te irei pedir pelos que são responsáveis pelas miserias dos outros. Todos te suplicam pelas vítimas, deixa-me rogar-te pelos algozes…“ – Bezerra de Menezes
PERDÃO
Diz-se não existir perdão sem ofensa. Mas porque nos sentimos ofendidos?
Projectamos para a sociedade uma imagem não tão real daquilo que somos. Somos espiritos imperfeitos e carregamos connosco todo o nosso passado, temos medos, vícios, paixões que guardamos ou esforça-mo-nos por guardar dentro de nós.
Mas vem sempre alguém de quando em vez, lançar uma pedra que nos faz sentir magoados, ofendidos. Ofendidos porque atingiram o nosso orgulho, e como diz Kardec em Obras Postumas “o orgulho antecede o nosso egoísmo”, e num ápice passamos de ofendidos a ofensores para nos defendermos. Ou quantas vezes simplesmente nos calamos, ou viramos costas, e seguimos em silêncio, carregando aquela mágoa que nos persegue, que nos atormenta? Quantas vezes no nosso intimo pensamos que um dia aquela pessoa terá a paga das suas ofensas?
A palavra perdoar significa aceitar, tolerar, suportar, isentar de divida. Mas como deveremos proceder perante a ofensa? Como perdoar a quem tanto nos ofende? Será de todo possível esquecer e prosseguir?
O apóstolo Paulo no cap. X §15 do Evangelho Segundo o Espiritismo adverto-nos “…se fordes duros, exigentes, inflexiveis e, além disso, guardardes uma pequena ofensa, como quereis que Deus esqueça que diariamente tendes grande necessidade de indulgência?“
Ainda no mesmo cap. §14, o Espírito Simeon aconselha “Espiritas, não esqueçais nunca que, tanto por palavras quanto por atos, o perdão das injúrias jamais deve ser coisa vã. Se vos dizeis espíritas sede-o então…“
Jesus pregado na cruz ensina-nos uma bela lição na qual devemos meditar “Pai, Perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem“
O caminho para o perdão é a honestidade de nos aceitarmos tal como somos e para isso temos que trabalhar o nosso orgulho, desenvolvendo a humildade e o amor incondicional.
Se temos uma visão da vida diferente, podemos tentar transmitir essa visão ao nosso ofensor, mas não podemos nunca exigir que ele se transforme, porque estamos em niveis de evolução diferentes, quem nos ofende é um irmão em sofrimento, temos que aprender a perceber isso e esforçarmo-nos por devolver em luz o que recebemos em trevas.
Joana de Ângelis em Psicologia Profunda explica-nos “ O perdão é dar o direito a cada um de ser como é e concedermos o direito de sermos como estamos, se o nosso proximo é assim, não irei mudá-lo, mas se eu estou assim tenho o dever de modificar-me para melhor […] o perdão não é o esquecimento do mal, o perdão é não combater o mal com o mal, é combater o mal com o bem, orar e tentar ajudar o ofensor…“
Ainda no cap. X do Envangelho Segundo o Espiritismo §17, o Espírito João esclarece-nos “Quando perdoardes aos vossos irmãos, não vos contenteis com um véu sobre suas faltas; quando perdoardes, oferecei-lhes simultaneamente o vosso amor; fazei por eles o que queríeis que vosso Pai Celeste fizesse por vós. Substituí a cólera pelo Amor que purifica“
Kardec num dos seus comentários escreve “Amar o próximo como a si mesmo; fazer aos outros como quereríamos que nos fizessem” Eis a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres para com o próximo.
Todos nós temos más inclinações a vencer, defeitos a corrigir e hábitos a modificar, tenhamos consciência disso perante a ofensa, saibamos ser melhores e não esquecer que é nosso dever estender a mão ao irmão que sofre, assim como tantas outras vezes alguém a estendeu a nós próprios.