Em várias passagens Jesus reporta-se ao Reino dos Céus, ou o Reino de Deus, ou, simplesmente, O Reino.
São expressões equivalentes.
A teologia medieval concebeu que Jesus veio instalá-lo, o que sugere que a Terra não estava sob a regência divina.
Permanecia acéfala?
Um tanto estranho, amigo leitor, se considerarmos que Deus é o Criador, o Senhor supremo, presença imanente, cujas leis têm vigência em todos os quadrantes do Universo.
Não encontraremos uma só galáxia, um só sistema solar, um só planeta, um só recanto, por mais remoto, onde o Todo-Poderoso esteja ausente.
Ele é a consciência cósmica do Universo. Permanece em tudo e em todos. Estamos mergulhados nas bênçãos divinas, como peixes no oceano.
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Se nascemos no Brasil, se aqui vivemos, legalmente somos cidadãos brasileiros.
Mas, sob o ponto de vista moral, essa cidadania só será legitimada pelo empenho em cumprir as leis do país, o que implica na observância de nossos deveres perante a comunidade, zelando por seu equilíbrio e bem-estar.
Algo semelhante acontece com o Reino.
Se há um Reino Universal regido por Deus, somos todos seus súditos.
Não obstante, isso pouco significa, se não nos preocupamos em cumprir o que o Eterno espera de nós.
Por isso Jesus diz (Lucas, 17:20-21):
O Reino de Deus não vem com aparência visível. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós.
O problema, então, não é entrar no Reino. Vivemos nele.
O problema é o Reino entrar em nós.
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Em várias parábolas Jesus nos diz como alcançar essa realização.
No tempo antigo não havia Bancos para depositar bens amoedados; então, as pessoas os escondiam em terrenos isolados, de sua propriedade.
Não raro, esses tesouros se perdiam pelo falecimento do proprietário. Quem os encontrasse podia entrar na posse deles, desde que comprasse as respectivas glebas.
Havia pessoas que se especializavam nessa lucrativa atividade, caçadores de tesouros, que ainda hoje povoam o imaginário popular.
Jesus usa essa imagem para nos contar sugestiva e breve parábola.
O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo.
Um homem o encontra e esconde-o novamente.
Feliz, vende tudo o que tem e compra aquele campo.
O Reino seria aquele estado de paz, de tranqüilidade e alegria, no pleno cumprimento das leis divinas, habilitando-nos a desfrutar as bênçãos de Deus.
No simbolismo evangélico, situa-se como um tesouro oculto em recôndita região de nossa consciência, no solo de nossas cogitações existenciais.
Custa caro. Para sua aquisição, que equivale à posse de nós mesmos, imperioso nos desfaçamos de inúmeros bens, entre aspas, porquanto mais atrapalham do que ajudam.
São elefantes brancos.
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No antigo reino de Sião, atual Tailândia, o raro elefante branco era animal sagrado.
Quando o rei queria punir alguém, oferecia-lhe um. O súdito sentia-se honrado, mas logo percebia tratar-se de um “presente de grego”.
Deveria dispensar sofisticados cuidados com o animal. Alimentá-lo com iguarias caras, colocar-lhe enfeites, ter empregados para cuidar dele…
Acabava arruinado.
Algo semelhante ocorre em nossa vida.
Há elefantes brancos em nosso caminho.
Temos satisfação com eles, em princípio, mas logo percebemos que nos causam prejuízos imensos.
Alguns deles:
• Ambição
Riqueza, poder, destaque social, prestígio, constituem o anseio de muitos.
O ambicioso só tem olhos para aquelas realizações.
Toma gosto pelos bens materiais que, sendo apenas parte da vida, convertem-se para ele em finalidade dela.
Deixa de ser dono de seu dinheiro.
Situa-se escravo dele.
Rico materialmente, mendigo de paz.
Parafraseando Jesus, podemos dizer que é mais fácil esse elefante branco passar pelo fundo de uma agulha do que seu proprietário entrar no Reino.
• Vício
Em princípio, oferece o Céu.
O fumo tranqüiliza.
O álcool desinibe.
As drogas produzem euforia.
Mas é céu artificial, precário, que nos leva, invariavelmente, ao inferno da dependência.
Enquanto o usuário está sob seu efeito é ótimo.
Logo, porém, o corpo cobra novas doses, submetendo-o a angústias e tensões terríveis.
Assim, oscila entre o céu e o inferno.
Cada vez menos céu; cada vez mais inferno, à medida que se amplia a dependência. E nele se instala de vez, quando retorna ao plano espiritual, antes do tempo, expulso do próprio corpo que destruiu.
Em terrível destrambelho, sofre horrivelmente, em longos e dolorosos estágios em regiões lúgubres e trevosas, habitadas por companheiros de infortúnio.
Ao reencarnar, os desajustes provocados em seu corpo espiritual se refletirão na nova estrutura física, dando origem a males variados, dolorosos, angustiantes, mas necessários.
Funcionam como válvulas de escoamento das impurezas de que se impregnou, ao mesmo tempo em que o ajudam a superar entranhados condicionamentos, que fatalmente o induziriam a retomar o vício.
Se o viciado tivesse a mínima noção do futuro dantesco que o espera, ficaria horrorizado.
Haveria de lutar com todas as forças de sua alma para livrar-se desse comprometedor elefante branco.
• Sexo.
Dádiva divina, é por intermédio dele que entramos na vida terrestre, além de favorecer gratificante momento de intimidade entre o homem e a mulher.
Entretanto, vivemos tempos perigosos, de liberdade sexual confundida com libertinagem. O sexo deixou de ser parte do amor para transformar-se no amor por inteiro.
Casais que mal se conhecem falam em “fazer amor”, pretendendo uma comunhão sexual sem compromisso, em lamentável promiscuidade.
É um tremendo elefante branco!
Oferece euforia em princípio, mas cobra muita inquietação depois, e perene insatisfação.
Com a troca constante de parceiros e a busca desenfreada de prazer, o indivíduo cai no desvairo sexual, envolvendo-se em comprometedoras perversões.
• Paixão
Fixado em alguém, empolgado pela comunhão carnal, o apaixonado estende as raízes de sua estabilidade física e psíquica no objeto de seus desejos e passa a viver em função dele.
Se a relação não dá certo e vem o rompimento, é uma tragédia. Suicídios, crimes passionais, loucuras variadas, são mera decorrência.
Quando o amor deixa de ser um ato de doação, rebaixado ao mero desejo de posse, em que pretendemos que o ser amado submeta-se aos nossos caprichos, transforma-se em voraz elefante branco que nos exaure e desajusta.
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Não nos tornaremos santos do dia para a noite, campeões do Evangelho, apóstolos do Bem, mesmo porque a Natureza não dá saltos.
Consideremos, porém, em nosso próprio benefício, que é preciso avaliar se não estamos sustentando insaciáveis elefantes brancos, que nos empobrecem.
Com eles fica impossível o cultivo de aspirações superiores, no solo sagrado do coração, para a conquista do almejado tesouro divino.
Richard Simonetti
Livro Histórias que Trazem Felicidade