<\/a><\/p>\nRIE – Por que o interesse na divulga\u00e7\u00e3o da obra liter\u00e1ria de Yvonne do Amaral Pereira?
\nPedro Camilo de Figueiredo Neto – O interesse pelo trabalho da m\u00e9dium Yvonne Pereira surgiu no in\u00edcio de 1999, quando fazia estudos sobre a mediunidade na adolesc\u00eancia. A descobri no livro de meu conterr\u00e2neo, Carlos Bernardo Loureiro, intitulado As mulheres m\u00e9diuns, e desde ent\u00e3o me encantei pela sua vida e por sua obra, que me pareceram ricas de bons ensinamentos.<\/p>\n
RIE – E o que mais lhe chama a aten\u00e7\u00e3o em toda a obra produzida pela m\u00e9dium?
\nPedro – Creio que sua fidelidade ao pensamento de Kardec. Yvonne demonstra, em escritos e atitudes, como conhecia bem as bases do Espiritismo e pautava toda a sua produ\u00e7\u00e3o por essa compreens\u00e3o. Al\u00e9m disso, suas obras medi\u00fanicas, sobretudo os romances, s\u00e3o verdadeiras p\u00e9rolas liter\u00e1rias, a ponto de conseguir, com Bezerra de Menezes e Camilo Castelo Branco, por exemplo, a tradu\u00e7\u00e3o de seus estilos.<\/p>\n
RIE- E voc\u00ea considera que este e outros aspectos trazem contribui\u00e7\u00e3o para a forma\u00e7\u00e3o do esp\u00edrita mais consciente? De que forma?
\nPedro – Primeiro, lembrando a necessidade de termos \u201cconsci\u00eancia\u201d de que tudo o que produzimos produz efeitos. Assim, somente nos devemos arrojar naquilo que edifique a coletividade. Depois, pela cautela que possu\u00eda, sobretudo com suas pr\u00f3prias produ\u00e7\u00f5es. Yvonne guardou Mem\u00f3rias de um suicida por 30 anos antes de public\u00e1-lo, o que aconteceu com outros livros, que ficaram guardados cerca de 40 anos. Um motivo s\u00f3 ela possu\u00eda: cuidado! Quantos m\u00e9diuns, na atualidade, precisam aprender com seu exemplo?<\/p>\n
RIE – Amplie seus coment\u00e1rios sobre o Mem\u00f3rias de Um Suicida. Quando foi lan\u00e7ado?
\nPedro – O livro foi lan\u00e7ado em 1956, trinta anos depois do in\u00edcio de sua recep\u00e7\u00e3o. Trata-se de uma obra sem igual, que mereceu elogios vigorosos de Chico Xavier e de Andr\u00e9 Luiz. Encerra o relato das experi\u00eancias vividas pelo escritor portugu\u00eas Camilo Castelo Branco ap\u00f3s seu suic\u00eddio, no Portugal de 1890. Al\u00e9m desses relatos, Yvonne Pereira revela que a obra possui a colabora\u00e7\u00e3o do Esp\u00edrito L\u00e9on Denis. Segundo ela, Camilo n\u00e3o possu\u00eda conhecimentos doutrin\u00e1rios suficientes para as abordagens que o livro requeria. Face a isso, L\u00e9on Denis fez a complementa\u00e7\u00e3o necess\u00e1ria, devendo, com raz\u00e3o, ser considerado um dos seus autores.<\/p>\n
RIE – A riqueza da produ\u00e7\u00e3o liter\u00e1ria de Yvonne gerou outras obras, de pesquisa e de refer\u00eancias biogr\u00e1ficas, inclusive de sua autoria. Em sua vis\u00e3o pessoal, como voc\u00ea percebe e avalia isso?
\nPedro – Avalio como extremamente positivo, por resgatar sua vida e obra para os esp\u00edritas da atualidade. Sobre sua vida, temos as obras \u201cYvonne do Amaral Pereira \u2013 o voo de uma alma\u201d, de Augusto M. Freitas, e \u201cYvonne: a m\u00e9dium iluminada\u201d, de G\u00e9rson Sestini, pessoas que a conheceram e contribuem para o resgate de sua vida. De minha parte, escrevi \u201cYvonne Pereira: uma hero\u00edna silenciosa\u201d, um estudo biogr\u00e1fico; \u201cDevassando a mediunidade\u201d, um estudo a partir de conceitos e experi\u00eancias da m\u00e9dium; e organizei \u201cPelos caminhos da mediunidade serena\u201d, com entrevistas e outros textos de Yvonne. Creio que \u00e9 poss\u00edvel produzir mais, gra\u00e7as \u00e0 fecundidade dos escritos de Yvonne, os medi\u00fanicos e os pessoais.<\/p>\n
RIE – Em toda a obra de Yvonne, que detalhe fundamental voc\u00ea destaca para o estudioso esp\u00edrita?
\nPedro – Destacaria a sua dedica\u00e7\u00e3o \u00e0 mediunidade e ao problema da obsess\u00e3o, que sempre lhe mereceu uma aten\u00e7\u00e3o especial. Yvonne se queixava muito que os esp\u00edritas n\u00e3o queriam se habilitar para a tarefa de desobsess\u00e3o, que, em sua opini\u00e3o, \u00e9 a tarefa esp\u00edrita por excel\u00eancia. Tamb\u00e9m seu amor pelos suicidas e empenho em sua preven\u00e7\u00e3o. Yvonne fora suicida em outra encarna\u00e7\u00e3o e, por esse motivo, trazia esse grave compromisso consigo.<\/p>\n
RIE – Para o leitor que nada conhece da m\u00e9dium ou mesmo para quem se aproxima agora do Espiritismo, que livros voc\u00ea indica ao leitor?
\nPedro – Para um conhecimento geral, recomendo meu livro, \u201cYvonne Pereira: uma hero\u00edna silenciosa\u201d (risos). Na sequ\u00eancia, \u201cDevassando o invis\u00edvel\u201d e \u201cRecorda\u00e7\u00f5es da mediunidade\u201d, para maiores estudos, e \u201cNas Voragens do Pecado\u201d, \u201cO Cavaleiro de Numiers\u201d, \u201cO drama da Bretanha\u201d e \u201cAmor e \u00f3dio\u201d para quem desejar bel\u00edssimos romances. As demais obras ser\u00e3o conhecidas \u00e0 medida das leituras.<\/p>\n
RIE – Detalhe conte\u00fados desses livros que voc\u00ea indicou.
\nPedro – Devassando o invis\u00edvel e Recorda\u00e7\u00f5es da mediunidade s\u00e3o obras em que a m\u00e9dium abre o seu ba\u00fa de viv\u00eancias medi\u00fanicas e se nos apresenta em li\u00e7\u00f5es fant\u00e1sticas! Fatos relativos ao pr\u00f3prio mundo espiritual, o seu relacionamento com Chopin, Bezerra de Menezes, L\u00e9on Tolstoi e Victor Hugo, sutilezas de sua psicografia para romances e muito mais pode ser encontrado naquelas p\u00e1ginas. A trilogia Nas voragens do pecado, O cavaleiro de Numiers e O drama da Bretanha encerra tr\u00eas encarna\u00e7\u00f5es de Yvonne. S\u00e3o relatos vivos de seus deslizes morais e de como a sua personalidade foi sendo constru\u00edda, at\u00e9 se tornar a respeit\u00e1vel m\u00e9dium que conhecemos. Romances de alt\u00edssima qualidade, que os atuais est\u00e3o longe de imitar. Amor e \u00f3dio \u00e9 outro romance, que relata o drama de um jovem franc\u00eas e que, na minha modesta opini\u00e3o, \u00e9 um dos livros esp\u00edritas que n\u00e3o se pode deserncarnar sem t\u00ea-lo apreciado (risos). Todos foram publicados pela Federa\u00e7\u00e3o Esp\u00edritas Brasileira.<\/p>\n
RIE – Voc\u00ea n\u00e3o citou o extraordin\u00e1rio livro Dramas da Obsess\u00e3o. Comente sobre essa obra.
\nPedro – Vale citar, tamb\u00e9m, Dramas da obsess\u00e3o, obra ditada pelo Esp\u00edrito Bezerra de Menezes e que cont\u00e9m o relato de dois casos de obsess\u00e3o acompanhados por ambos, m\u00e9dium e Esp\u00edrito. Sua riqueza doutrin\u00e1ria \u00e9 tal que, particularmente, acredito que todo aquele que lide na seara desobsessiva n\u00e3o pode deixar de conhec\u00ea-lo e estud\u00e1-lo longamente.<\/p>\n
RIE – Como Yvonne alcan\u00e7a n\u00edvel t\u00e3o expressivo de fidelidade \u00e0 obra da Codifica\u00e7\u00e3o de Allan Kardec? Que par\u00e2metros podemos usar para perceber isso?
\nPedro – Ela alcan\u00e7a tamanha expressividade se dedicando ao estudo s\u00e9rio e desapaixonado de Kardec. Tamb\u00e9m as obras de Le\u00f3n Denis, Gabriel Dellane e Ernesto Bozzano eram vastamente estudadas. Todos os seus escritos referenciam esses autores, com lucidez e bom senso. Al\u00e9m disso, afirmava ela, a amigos, que lia os cinco livros considerados b\u00e1sicos do Espiritismo pelo menos uma vez por ano. Ser\u00e1 preciso indicar mais par\u00e2metros?<\/p>\n
RIE – A obra de Yvonne ainda \u00e9 bastante desconhecida do movimento esp\u00edrita. O que podemos dizer aos dirigentes, palestrantes e articulistas esp\u00edritas para sensibiliz\u00e1-los na maior divulga\u00e7\u00e3o dos excelentes livros produzidos pela m\u00e9dium?
\nPedro – Que conhecer as obras de Yvonne Pereira e divulg\u00e1-las \u00e9 materializar as palavras de Emmanuel, quando afirmou que a melhor caridade que se pode fazer ao Espiritismo \u00e9 divulg\u00e1-lo. Yvonne \u00e9 daquelas esp\u00edritas a quem todos devemos admirar, respeitar e conhecer. Quem pretenda enveredar-se pelos labirintos da mediunidade com seguran\u00e7a, depois de conhecer O Livro dos M\u00e9diuns e No Invis\u00edvel, este de L\u00e9on Denis, n\u00e3o pode dispensar as obras de Yvonne. Fora disso, qualquer estudo ser\u00e1 incompleto.<\/p>\n
RIE – E a liga\u00e7\u00e3o de Yvonne com o Esperanto, o receitu\u00e1rio medi\u00fanico e as correspond\u00eancias para todo pa\u00eds?
\nPedro – Yvonne foi esperantista, embora o tempo reduzido que dedicava ao seu cultivo. Correspondia-se em esperando com pessoas pelo mundo, h\u00e1bito cultivado tamb\u00e9m no Brasil, na l\u00edngua nacional. Pela correspond\u00eancia, consolou, instruiu e se confraternizou com grande n\u00famero de pesssoas. Tenho, comigo, mais de noventa p\u00e1ginas e correspond\u00eancias que ela trocou com um amigo paulista, o escritor Dom\u00e9rio de Oliveira, ao longo de vinte anos de amizade. Ali\u00e1s, essa amizade come\u00e7ou ap\u00f3s o Dr. Dom\u00e9rio, como era conhecido, publicar na RIE um artigo favor\u00e1vel ao livro Devassando a mediunidade. Sua dedica\u00e7\u00e3o \u00e0 correspond\u00eancia e aos amigos demonstrava a grandiosidade do seu cora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
RIE – Por favor, fa\u00e7a uma s\u00edntese biogr\u00e1fica da m\u00e9dium
\nPedro – Yvonne Pereira nasceu em 24 de dezembro de 1900 e desencarnou em 09 de mar\u00e7o de 1984. M\u00e9dium, palestrante e escritora, nos deixou obras psicografadas, como Mem\u00f3rias de um suicida e Ressurrei\u00e7\u00e3o e vida, bem como livros da pr\u00f3pria lavra, como Devassando o invis\u00edvel e Recorda\u00e7\u00f5es da mediunidade. Dona de um discernimento singular, pautou sua vida no amor ao pr\u00f3ximo e no atendimento espiritual, sobretudo de esp\u00edritos suicidas, de quem se compadecia imensamente. Tal a riqueza de sua mediunidade, alguns a chamavam, embora contra a sua vontade, de \u201cGrande Dama do Espiritismo\u201d.<\/p>\n
RIE – Suas palavras finais.
\nPedro – Quem pretenda ocupar-se seriamente do Espiritismo, n\u00e3o pode dispensar o estudo da mediunidade, tal como prensada e descrita por Kardec, bem como a aprecia\u00e7\u00e3o de obras como as de Yvonne Pereira. Seguir por esse caminho \u00e9 garantir, para si e para os demais, fontes seguras e a certeza de guiar-se por estradas que conduzem \u00e0 ilumina\u00e7\u00e3o e ao conhecimento verdadeiro.<\/p>\n
Nota do entrevistador: Oportuno tamb\u00e9m sugerir ao leitor a exuberante obra \u00c0 Luz do Consolador, igualmente publicada pela Federa\u00e7\u00e3o Esp\u00edrita Brasileira no final da d\u00e9cada de 90, enfeixando artigos publicados pela m\u00e9dium na revista Reformador entre os anos 60 e 80, a maioria deles assinados com o pseud\u00f4nimo de Frederico Francisco. Al\u00e9m de dados biogr\u00e1ficos escritos pela pr\u00f3pria Yvonne, a obra \u00e9 rica doutrinariamente, com orienta\u00e7\u00f5es claras e in\u00fameros exemplos da viv\u00eancia medi\u00fanica da autora. Obra altamente recomend\u00e1vel para a exata compreens\u00e3o dos postulados esp\u00edritas.<\/p>\n
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Fonte: http:\/\/www.oclarim.com.br\/?id=7&tp_not=2&cod=1551<\/p>\n
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Orson Peter Carrara orsonpeter92@gmail.com Nosso entrevistado nasceu e mora em Salvador-BA. Bacharel em Direito, advogado, professor universit\u00e1rio e mestrando em Direito P\u00fablico pela UFBA, \u00e9 esp\u00edrita desde a adolesc\u00eancia. Diretor financeiro e coordenador do Departamento de Juventude da N\u00facleo Esp\u00edrita Telles de Menezes, na mesma cidade, quatro livros publicados \u2013 dois da pr\u00f3pria lavra, um…<\/p>\n","protected":false},"author":11,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[1],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/976"}],"collection":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/11"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=976"}],"version-history":[{"count":4,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/976\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":981,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/976\/revisions\/981"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=976"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=976"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=976"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}