J. Herculano Pires\u00a0<\/strong><\/em><\/p>\n O apego ao contingente, ao imediato, apaga na consci\u00eancia dos nossos dias o senso da responsabilidade espiritual. Nem mesmo a ronda constante da morte consegue arrancar o homem atual da embriaguez do presente. O problema do esp\u00edrito e da imortalidade s\u00f3 se aviva quando ligado diretamente a quest\u00f5es de interesse pessoal. O cat\u00f3lico, o protestante, o esp\u00edrita se equivalem nesse sentido. Todos buscam os caminhos do esp\u00edrito para a solu\u00e7\u00e3o de quest\u00f5es imediatistas ou para garantirem a si mesmos uma situa\u00e7\u00e3o melhor depois da morte.<\/p>\n <\/p>\n \u00a0A maioria absoluta dos espiritualistas est\u00e1 sempre disposta a investir (este \u00e9 o termo exato) em obras assistenciais, mas revela o maior desinteresse pelas obras culturais. Apegam-se os religiosos de todos os matizes \u00e0 t\u00e1bua de salva\u00e7\u00e3o da caridade material, aplicando grandes doa\u00e7\u00f5es em hospitais, orfanatos e creches, mas esquecendo-se dos interesses b\u00e1sicos da cultura. Garantem os juros da caridade no ap\u00f3s-morte, mas contraem pesadas d\u00edvidas no tocante \u00e0 divulga\u00e7\u00e3o, sustenta\u00e7\u00e3o e defesa de princ\u00edpios fundamentais da renova\u00e7\u00e3o da cultura planet\u00e1ria.<\/p>\n \u00a0A imprensa, a literatura, o ensaio, o estudo, a fixa\u00e7\u00e3o das linhas mestras da nova cultura terrena ficam ao deus-dar\u00e1. Falta uma tomada de consci\u00eancia, particularmente no meio esp\u00edrita, da responsabilidade de todos na constru\u00e7\u00e3o e na elabora\u00e7\u00e3o da Nova Era, que \u00e9 trabalho dos homens na Terra. Ningu\u00e9m ou quase ningu\u00e9m compreende que sem uma estrutura\u00e7\u00e3o cultural elevada, sem estudos aprofundados no plano cultural, que revelem as novas dimens\u00f5es do mundo e do homem na perspectiva esp\u00edrita, o espiritismo n\u00e3o passar\u00e1 de uma seita religiosa de fundo ego\u00edsta, buscando a salva\u00e7\u00e3o pessoal de seus adeptos, precisamente aquilo que Kardec lutou para evitar.<\/p>\n \u00a0A finalidade do espiritismo, como Kardec acentuou, n\u00e3o \u00e9 a salva\u00e7\u00e3o individual, mas a transforma\u00e7\u00e3o total do mundo, num vasto processo de reden\u00e7\u00e3o coletiva. Proporcionar aos jovens uma forma\u00e7\u00e3o cultural apoiada na mais positiva e completa base espiritual, que mostre a insensatez das concep\u00e7\u00f5es materialistas e pragmatistas, dando-lhes a firmeza necess\u00e1ria na sustenta\u00e7\u00e3o e defesa dos princ\u00edpios doutrin\u00e1rios, n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 caridade, mas tamb\u00e9m realiza\u00e7\u00e3o efetiva dos objetivos superiores do espiritismo nesta fase de transi\u00e7\u00e3o. Sem esse trabalho n\u00e3o poderemos avan\u00e7ar com seguran\u00e7a e efic\u00e1cia na dire\u00e7\u00e3o da Era do Esp\u00edrito. Temos de dar \u00e0s novas gera\u00e7\u00f5es a possibilidade de afirmarem, diante do desenvolvimento das ci\u00eancias e do avan\u00e7o geral da cultura, como disse Denis Bradley: \u201cEu n\u00e3o creio, eu sei!\u201d Porque \u00e9 pelo saber, e n\u00e3o pela cren\u00e7a, pela f\u00e9 racional e n\u00e3o pela f\u00e9 cega, pelo conhecimento e n\u00e3o pelas teorias indemonstr\u00e1veis, que o espiritismo, como revela\u00e7\u00e3o espiritual, ter\u00e1 de modelar a nova realidade terrena, apoiado na confirma\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, pela pesquisa, dos seus postulados fundamentais. A revela\u00e7\u00e3o humana confirma e comprova a revela\u00e7\u00e3o divina.<\/p>\n \u00a0Esse \u00e9 o problema que ningu\u00e9m parece compreender. Todos sonham com o momento em que a ci\u00eancia dever\u00e1 proclamar a realidade do esp\u00edrito. Mas essa proclama\u00e7\u00e3o jamais ser\u00e1 feita, se a ci\u00eancia esp\u00edrita n\u00e3o atingir a maioridade, n\u00e3o se confirmar por si mesma, podendo enfrentar virilmente, no plano da intelig\u00eancia e da cultura, a vis\u00e3o materialista do mundo e a concep\u00e7\u00e3o materialista do homem. Por isso precisamos de universidades esp\u00edritas, de institutos de cultura esp\u00edrita dotados de recursos para uma produ\u00e7\u00e3o cultural digna de respeito, de laborat\u00f3rios de pesquisa ps\u00edquica estruturados com aparelhagem eficiente e orientados por metodologia segura, planejada e testada por especialistas de verdade, capazes de dominar o seu campo de trabalho e de enfrentar com provas irrefut\u00e1veis os sofismas dos negadores sistem\u00e1ticos. \u00c9 uma batalha que se trava, o bom combate de que falava o ap\u00f3stolo Paulo, agora desenvolvido com todos os recursos da tecnologia.<\/p>\n \u00a0Chega de pieguice religiosa, de palestras sem fim sobre a fraternidade imposs\u00edvel no meio de lobos vestidos de ovelhas. Chega de caridade interesseira, de imprensa condicionada \u00e0 cren\u00e7a simpl\u00f3ria, de fala\u00e7\u00f5es emotivas que n\u00e3o passam de formas de chantagem emocional. Precisamos da Religi\u00e3o viril que remodela o homem e o mundo na base da verdade comprovada. Da caridade real que n\u00e3o se traduz em esmolas, mas na efetiva\u00e7\u00e3o da fraternidade humana oriunda do conhecimento de nossa constitui\u00e7\u00e3o org\u00e2nica e espiritual comuns, ou seja, da inelut\u00e1vel igualdade humana. De exposi\u00e7\u00f5es s\u00e1bias e profundas dos problemas do esp\u00edrito, nascidas da reflex\u00e3o madura e do estudo met\u00f3dico e profundo. Temos de acordar os dorminhocos da pregui\u00e7a mental e convocar a todos para as trincheiras da guerra incruenta da sabedoria contra a ignor\u00e2ncia, da realidade contra a ilus\u00e3o, da verdade contra a mentira. Sem essa revolu\u00e7\u00e3o em nossos processos n\u00e3o chegaremos ao mundo melhor que j\u00e1 est\u00e1 batendo, impaciente, \u00e0s nossas portas.<\/p>\n \u00a0N\u00e3o fa\u00e7amos do espiritismo uma ci\u00eancia de gigantes em m\u00e3os de pigmeus. Ele nos oferece uma concep\u00e7\u00e3o realista do mundo e uma vis\u00e3o viril do homem. Arquivemos para sempre as prega\u00e7\u00f5es de sacrist\u00e3o, os cursinhos de miniaturas de anjos, \u00e0 semelhan\u00e7a das miniaturas japonesas de \u00e1rvores. Enfrentemos os problemas doutrin\u00e1rios na perspectiva exata da liberdade e da responsabilidade de seres imortais. Reconhe\u00e7amos a fragilidade humana, mas n\u00e3o nos esque\u00e7amos da for\u00e7a e do poder do esp\u00edrito encerrado no corpo. N\u00e3o encaremos a vida cobertos de cinzas medievais. N\u00e3o fa\u00e7amos da exist\u00eancia um muro de lamenta\u00e7\u00f5es. Somos artes\u00e3os, artistas, oper\u00e1rios, construtores do mundo e temos de constru\u00ed-lo segundo o modelo dos mundos superiores que explendem nas constela\u00e7\u00f5es.<\/p>\n \u00a0Estudemos a doutrina aprofundando-lhe os princ\u00edpios. Remontemos o nosso pensamento \u00e0s li\u00e7\u00f5es viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimens\u00f5es perdidas do seu Evangelho. Essa \u00e9 a nossa tarefa.<\/p>\n Fonte: http:\/\/www.herculanopires.org.br\/editorial\/tomadadeconsciencia<\/strong><\/p>\n \n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" J. Herculano Pires\u00a0 O apego ao contingente, ao imediato, apaga na consci\u00eancia dos nossos dias o senso da responsabilidade espiritual. Nem mesmo a ronda constante da morte consegue arrancar o homem atual da embriaguez do presente. O problema do esp\u00edrito e da imortalidade s\u00f3 se aviva quando ligado diretamente a quest\u00f5es de interesse pessoal. 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