<\/a>Na transi\u00e7\u00e3o da vida corporal para a espiritual, produz–se ainda um outro fen\u00f3meno de import\u00e2ncia capital \u2014 a perturba\u00e7\u00e3o. Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensa\u00e7\u00f5es. \u00c9 como se diss\u00e9ssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro. Dizemos quase nunca, porque h\u00e1 casos em que a alma pode contemplar conscientemente o desprendimento, como em breve veremos.<\/p>\nA perturba\u00e7\u00e3o pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. \u00c0 propor\u00e7\u00e3o que se liberta, a alma encontra-se numa situa\u00e7\u00e3o compar\u00e1vel \u00e0 de um homem que desperta de profundo sono; as ideias s\u00e3o confusas, vagas, incertas; a vista apenas distingue como que atrav\u00e9s de um nevoeiro, mas pouco a pouco se aclara, desperta-se-lhe a mem\u00f3ria e o conhecimento de si mesma. Bem diverso \u00e9, contudo, esse despertar; calmo, para uns, acorda-lhes sensa\u00e7\u00f5es deliciosas; t\u00e9trico, aterrador e ansioso, para outros, \u00e9 qual horrendo pesadelo.<\/p>\n
O \u00faltimo alento quase nunca \u00e9 doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de inconsci\u00eancia [\u2026]<\/p>\n
H\u00e1 pessoas nas quais a coes\u00e3o \u00e9 t\u00e3o fraca que o desprendimento se opera por si mesmo, como que naturalmente; \u00e9 como se um fruto maduro se desprendesse do seu caule, e \u00e9 o caso das mortes calmas, de pac\u00edfico despertar.<\/p>\n
A causa principal da maior ou menor facilidade de desprendimento \u00e9 o estado moral da alma [e] \u00e9 proporcional ao apego \u00e0 mat\u00e9ria, que atinge o seu m\u00e1ximo no homem cujas preocupa\u00e7\u00f5es dizem respeito exclusiva e unicamente \u00e0 vida e gozos materiais.<\/p>\n
Ao contr\u00e1rio, nas almas puras, que antecipadamente se identificam com a vida espiritual, o apego \u00e9 quase nulo. E desde que a lentid\u00e3o e a dificuldade do desprendimento est\u00e3o na raz\u00e3o do grau de pureza e desmaterializa\u00e7\u00e3o da alma, de n\u00f3s somente depende o tornar f\u00e1cil ou penoso, agrad\u00e1vel ou doloroso, esse desprendimento [\u2026]<\/p>\n
Em se tratando de morte natural resultante da extin\u00e7\u00e3o das for\u00e7as vitais por velhice ou doen\u00e7a, o desprendimento opera-se gradualmente; para o homem cuja alma se desmaterializou e cujos pensamentos se destacam das coisas terrenas, o desprendimento quase se completa antes da morte real, isto \u00e9, ao passo que o corpo ainda tem vida org\u00e2nica, j\u00e1 o Esp\u00edrito penetra a vida espiritual, apenas ligado por elo t\u00e3o fr\u00e1gil que se rompe com a \u00faltima pancada do cora\u00e7\u00e3o. Nesta conting\u00eancia o Esp\u00edrito pode ter j\u00e1 recuperado a sua lucidez, de molde a tornar-se testemunha consciente da extin\u00e7\u00e3o da vida do corpo, considerando-se feliz por t\u00ea-lo deixado. Para esse a perturba\u00e7\u00e3o \u00e9 quase nula, ou antes, n\u00e3o passa de ligeiro sono calmo, do qual desperta com indiz\u00edvel impress\u00e3o de esperan\u00e7a e ventura.<\/p>\n
No homem materializado e sensual, que mais viveu do corpo que do Esp\u00edrito, e para o qual a vida espiritual nada significa, nem sequer lhe toca o pensamento, tudo contribui para estreitar os la\u00e7os materiais, e, quando a morte se aproxima, o desprendimento, conquanto se opere gradualmente tamb\u00e9m, demanda cont\u00ednuos esfor\u00e7os [\u2026] ind\u00edcios da luta do Esp\u00edrito, que \u00e0s vezes procura romper os elos resistentes, e outras se agarra ao corpo do qual uma for\u00e7a irresist\u00edvel o arrebata com viol\u00eancia, mol\u00e9cula por mol\u00e9cula [\u2026]<\/p>\n
Qu\u00e3o diversa \u00e9 a situa\u00e7\u00e3o do Esp\u00edrito desmaterializado, mesmo nas enfermidades mais cru\u00e9is! Sendo fr\u00e1geis os la\u00e7os flu\u00eddicos que o prendem ao corpo, rompem-se suavemente; depois, a confian\u00e7a do futuro entrevisto em pensamento ou na realidade, como sucede algumas vezes, f\u00e1-lo encarar a morte qual reden\u00e7\u00e3o e as suas consequ\u00eancias como prova, advindo-lhe da\u00ed uma calma resignada, que lhe ameniza o sofrimento.<\/p>\n
Ap\u00f3s a morte, rotos os la\u00e7os, nem uma s\u00f3 reac\u00e7\u00e3o dolorosa que o afecte; o despertar \u00e9 l\u00e9pido, desembara\u00e7ado; por sensa\u00e7\u00f5es \u00fanicas: o al\u00edvio, a alegria!<\/p>\n
Allan Kardec \u2013 Codifica\u00e7\u00e3o Esp\u00edrita, <\/em><\/strong>O C\u00c9U E O INFERNO<\/em><\/strong>, 2\u00aa pt., cap. <\/em><\/strong>I<\/em><\/strong> \u2013\u00a7 6-10<\/em><\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Na transi\u00e7\u00e3o da vida corporal para a espiritual, produz–se ainda um outro fen\u00f3meno de import\u00e2ncia capital \u2014 a perturba\u00e7\u00e3o. Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensa\u00e7\u00f5es. \u00c9 como se diss\u00e9ssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha…<\/p>\n","protected":false},"author":6,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[1],"tags":[81,82,23,78,80],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1773"}],"collection":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/6"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1773"}],"version-history":[{"count":7,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1773\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":1776,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1773\/revisions\/1776"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1773"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1773"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1773"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}