O que importa ao homem saber, acima de tudo, \u00e9: o que ele \u00e9, de onde vem, para onde vai, qual o seu destino.<\/strong> As id\u00e9ias que fazemos do universo e de suas leis, da fun\u00e7\u00e3o que cada um deve exercer sobre este vasto teatro, s\u00e3o de uma import\u00e2ncia capital. Por elas dirigimos nossos atos. Consultando-as, estabelecemos um objetivo em nossas vidas e para ele caminhamos. Nisso est\u00e1 a base, o que verdadeiramente motiva toda civiliza\u00e7\u00e3o.<\/a><\/p>\n

T\u00e3o superficial \u00e9 seu ideal, quanto superficial \u00e9 o homem. Para as coletividades, como para o indiv\u00edduo, \u00e9 a concep\u00e7\u00e3o do mundo e da vida que determina os deveres, fixa o caminho a seguir e as resolu\u00e7\u00f5es a adotar.<\/p>\n

Mas, como dissemos, a dificuldade em resolver esses problemas, muito freq\u00fcentemente, nos faz rejeit\u00e1-los. A opini\u00e3o da grande maioria \u00e9 vacilante e indecisa, seus atos e caracteres disso sofrem a conseq\u00fc\u00eancia. \u00c9 o mal da \u00e9poca, a causa da perturba\u00e7\u00e3o \u00e0 qual se mant\u00e9m presa. Tem-se o instinto do progresso, pode-se caminhar mas, para chegar aonde? \u00c9 nisto que n\u00e3o se pensa o bastante. O homem, ignorante de seus destinos, \u00e9 semelhante a um viajante que percorre maquinalmente um caminho sem conhecer o ponto de partida nem o de chegada, sem saber porque viaja e que, por conseguinte, est\u00e1 sempre disposto a parar ao menor obst\u00e1culo, perdendo tempo e descuidando-se do objetivo a atingir.<\/p>\n

A insufici\u00eancia e obscuridade das doutrinas religiosas e os abusos que t\u00eam engendrado, lan\u00e7am numerosos esp\u00edritos ao materialismo. Cr\u00ea-se, voluntariamente, que tudo acaba com a morte, que o homem n\u00e3o tem outro destino sen\u00e3o o de se esvanecer no nada.<\/p>\n

Demonstraremos a seguir como esta maneira de ver est\u00e1 em oposi\u00e7\u00e3o flagrante \u00e0 experi\u00eancia e \u00e0 raz\u00e3o. Digamos, desde j\u00e1, que est\u00e1 destitu\u00edda de toda no\u00e7\u00e3o de justi\u00e7a e progresso.<\/p>\n

Se a vida estivesse circunscrita ao per\u00edodo que vai do ber\u00e7o \u00e0 tumba, se as perspectivas da imortalidade n\u00e3o viessem esclarecer sua exist\u00eancia, o homem n\u00e3o teria outra lei sen\u00e3o a de seus instintos, apetites e gozos. Pouco importaria que amasse o bem e a eq\u00fcidade. Se n\u00e3o faz sen\u00e3o aparecer e desaparecer nesse mundo, se traz consigo o esquecimento de suas esperan\u00e7as e afei\u00e7\u00f5es, sofreria tanto mais quanto mais puras e mais elevadas fossem suas aspira\u00e7\u00f5es; amando a justi\u00e7a, soldado do direito, acreditar-se-ia condenado a quase nunca ver sua realiza\u00e7\u00e3o; apaixonado pelo progresso, sens\u00edvel aos males de seus semelhantes, imaginaria que se extinguiria antes de ver triunfarem seus princ\u00edpios.<\/p>\n

Com a perspectiva do nada, quanto mais tivesse praticado o devotamento e a justi\u00e7a, mais sua vida seria f\u00e9rtil em amarguras e decep\u00e7\u00f5es. O ego\u00edsmo, bem compreendido, seria a suprema sabedoria; a exist\u00eancia perderia toda sua grandeza e dignidade. As mais nobres faculdades e as mais generosas tend\u00eancias do esp\u00edrito humano terminariam por se dobrar e extinguir inteiramente.<\/p>\n

A nega\u00e7\u00e3o da vida futura suprime tamb\u00e9m toda san\u00e7\u00e3o moral. Com ela, quer sejam bons<\/p>\n

ou maus, criminosos ou sublimes, todos os atos levariam aos mesmos resultados. N\u00e3o haveria compensa\u00e7\u00f5es \u00e0s exist\u00eancias miser\u00e1veis, \u00e0 obscuridade, \u00e0 opress\u00e3o, \u00e0 dor; n\u00e3o haveria consola\u00e7\u00e3o nas provas, esperan\u00e7a para os aflitos. Nenhuma diferen\u00e7a se poderia<\/p>\n

esperar, no porvir, entre o ego\u00edsta, que viveu somente para si, e freq\u00fcentemente na depend\u00eancia de seus semelhantes, e o m\u00e1rtir ou o ap\u00f3stolo que sofreu, que sucumbiu em combate para a emancipa\u00e7\u00e3o e o progresso da ra\u00e7a humana. A mesma treva lhes serviria de mortalha.<\/p>\n

Se tudo terminasse com a morte o ser n\u00e3o teria nenhuma raz\u00e3o de se constranger, de conter seus instintos e seus gostos. Fora das leis terrestres, ningu\u00e9m o poderia deter. O bem e o mal, o justo e o injusto se confundiriam igualmente e se misturariam no nada. E o suic\u00eddio seria sempre um meio de escapar aos rigores das leis humanas.<\/p>\n

A cren\u00e7a no nada, ao mesmo tempo em que arru\u00edna toda san\u00e7\u00e3o moral, deixa sem solu\u00e7\u00e3o o problema da desigualdade das exist\u00eancias, naquilo que toca \u00e0 diversidade das faculdades, das aptid\u00f5es, das situa\u00e7\u00f5es e dos m\u00e9ritos. Com efeito, por que a uns todos os dons de esp\u00edrito e do cora\u00e7\u00e3o e os favores da fortuna, enquanto que tantos outros n\u00e3o t\u00eam compartilhado sen\u00e3o a pobreza intelectual, os v\u00edcios e a mis\u00e9ria? Por que, na mesma fam\u00edlia, parentes e irm\u00e3os, sa\u00eddos da mesma carne e do mesmo sangue, diferem essencialmente sobre tantos pontos? Tantas quest\u00f5es insol\u00faveis para os materialistas e que podem ser respondidas t\u00e3o bem pelos crentes. Essas quest\u00f5es, n\u00f3s iremos examinar brevemente \u00e0 luz da raz\u00e3o.<\/p>\n

 <\/p>\n

L\u00e9on Denis<\/strong>, do livro \u201cO porqu\u00ea da vida\u201d, cap\u00edtulo II<\/em><\/strong><\/p>\n

 <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O que importa ao homem saber, acima de tudo, \u00e9: o que ele \u00e9, de onde vem, para onde vai, qual o seu destino. As id\u00e9ias que fazemos do universo e de suas leis, da fun\u00e7\u00e3o que cada um deve exercer sobre este vasto teatro, s\u00e3o de uma import\u00e2ncia capital. Por elas dirigimos nossos atos.…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[1],"tags":[79,71],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1763"}],"collection":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1763"}],"version-history":[{"count":4,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1763\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":1767,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1763\/revisions\/1767"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1763"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1763"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/aela.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1763"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}